domingo, 23 de agosto de 2015

O PRIMO BASÍLIO


Hoje acordei pensando num assunto que é recorrente entre meus amigos quando descobrem que sou um consumidor voraz de livros e escritor desse blog; como convencer alguém a ler uma obra já esmiuçada pela mídia e adaptada para outras artes? Em primeiro lugar gostaria de esclarecer que não sou pastor da Igreja Livreira, se é que esse lugar existe, e não fico por aí pregando e enchendo o saco dos amigos para que eles leiam, leiam e leiam. Em segundo lugar quero deixar claro que não fico fazendo citações de livros em conversas informais, ou formais, com a pretensão de ser/parecer erudito ou culto. E por último, deixo claríssimo que não procuro convencer ninguém a nada, não sou o tipo de pessoa que quer ver no outro seu espelho.

Quando esse assunto vem à tona eu sempre tinha uma resposta pronta: ‘o livro é sempre melhor que o filme, a peça, a novela, etc.’ Mas depois de alguns exemplos como O Diabo Veste Prada, Budapeste, A Culpa é das Estrelas, Ensaio Sobre a Cegueira e outros, cujas versões cinematográficas ficaram melhores ou tão boas quanto o livro, eu parei de dizer isso. Hoje eu tenho outra resposta: Cada obra tem um impacto diferente nas pessoas, para alguns o livro é mais detalhista, para outros basta o filme ou a minissérie, o que importa é o conhecimento que essa experiência vai te trazer.

E foi exatamente isso que aconteceu comigo quando assisti a minissérie O Primo Basílio em 1988. Não sei se foi o impacto da trama escrita por Gilberto Braga e Leonor Bassères, baseada no romance de Eça de Queirós (1845-1900), se foi o quarteto principal de atores cuja formação era Tony Ramos, Giulia Gam, Marcos Paulo e Marília Pêra, ou se foi a excelente reconstituição de época, cenário e figurinos sob a direção geral de Daniel Filho. O fato é que, no dia que ia ao ar o último capítulo eu comprei o livro, começava ali minha incursão pela obra o Eça de Queirós, que em algumas publicações aparece como Eça de Queiroz, quem puder explicar isso manda uma mensagem.

A obra, cuja primeira edição foi publicada em 1878, é atualíssima quando a vemos pelo prisma da vilania, da luta de classes, do subir a qualquer preço, e do preço que se paga pela traição. Não estou julgando Luísa por viver seu grande amor pelo primo Basílio durante as longas temporadas de tédio por causa das viagens constantes do seu marido Jorge, cidadão pacato, cumpridor das leis e inquestionavelmente apaixonado pela esposa. Não julgo Basílio, apesar da evidente dubiedade de caráter já estabelecida na primeira descrição do autor, e não julgo Juliana, a empregada vil, que rouba os sonhos românticos da sua patroa pelo simples fato de nunca ter sido amada.

Não vou recomendar a leitura do livro, não vou recomendar ver a minissérie que foi lançada recentemente em dvd, e nunca recomendarei ver o filme, apesar da boa atuação de Glória Pires no papel de Juliana. Assim como na música, algumas interpretações na TV ou no cinema são definitivas, não é possível cantar Atrás da Porta como Elis o fazia e, na minha mais humilde opinião, a Juliana que Eça de Queirós imaginou era a Marília Pêra.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Ponto de Ônibus - Praça Castro Alves
Data: 26/09/2015

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