domingo, 12 de julho de 2015

MORTE SÚBITA


O que fazer após o estrondoso sucesso de Harry Potter? Escrever mais sobre o universo Harry Potter? J. R. Rowling (1965) bem que tentou escrever livros correlacionados ao mundo do menino bruxo, mas ainda estava no meio da saga e essas publicações passaram quase que despercebidas na linha editorial, afinal, o que os fãs queriam saber era como Harry derrotaria do temido Lord Voldemort. Após a conclusão da saga e os direitos vendidos instantaneamente para o cinema, a autora bem que tentou continuar a escrever sobre assuntos que giravam em torno da escola de Hogwarts lançando através do site capítulos com explicações e mais detalhes sobre o Ministério da Magia ou o Quadribol, obteve relativo sucesso mas nada que fosse espetacular.

Ao publicar Morte Súbita a intenção era enveredar pela literatura para adultos, mas foi recebida com descrédito pela crítica e o público não “comprou” a obra. Escrevi a palavra entre aspas porque quero imprimir um duplo sentido, o do verbo comprar propriamente dito e a compra com significado de acreditar no talento da autora. Nesse sentido me incluo na massa manobrada por críticas e resenhas publicadas pelos ditos especialistas. Entretanto sou um curioso nato no que diz respeito às coisas e ter opinião própria sobre tudo faz parte da minha personalidade desde que ouvi a música Metamorfose Ambulante do Raul Seixas.

Para ler Morte Súbita você tem que perseverar, a edição que pretendo abandonar possui 652 páginas. Confesso que já tinha lido mais de 300 e ainda estava meio perdido com a história, os personagens e os diversos núcleos que envolviam a cidade de Pagford. Tudo girava em torno da vaga aberta no conselho da cidade após a morte do professor Barry Fairbrother. A aparência idílica do vilarejo esconde uma guerra de ricos contra pobres, filhos com os pais, esposas com os maridos e moradores de bairros nobres contra a periferia. Barry nasceu na periferia e venceu graças aos estudos na escola de Pagford, desejava isso para todas as crianças e era ferrenho lutador pela expansão dos direitos a todos. Os moradores tradicionalistas esbravejam e culpam a periferia pelas drogas, a prostituição, e o dinheiro dos impostos de Pagford revertidos para clínicas de reabilitação e ajuda financeira aos ‘desocupados’.

Não nego que sou fã da saga Harry Potter, acho que a criação daquele universo tão rico em detalhes e sofisticada trama só poderia vir de uma cabeça privilegiada. A autora J. R. Rowling continua com essa verve, ela constrói outra cidade, dá vida a um número considerável de personagens, cria uma trama que se torna instigante com o avançar das páginas, com humor e revelações inesperadas, tudo no ponto certo para a construção da personalidade de cada personagem, todos, sem exceção, sempre cheios de ambivalências. Agora estou curioso para saber se você vai “comprar” meu depoimento.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Ponto de ônibus do Porto da Barra
Data: 29/08/2015

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