Ao publicar Morte Súbita a intenção era enveredar pela
literatura para adultos, mas foi recebida com descrédito pela crítica e o
público não “comprou” a obra. Escrevi a palavra entre aspas porque quero
imprimir um duplo sentido, o do verbo comprar propriamente dito e a compra com
significado de acreditar no talento da autora. Nesse sentido me incluo na massa
manobrada por críticas e resenhas publicadas pelos ditos especialistas.
Entretanto sou um curioso nato no que diz respeito às coisas e ter opinião
própria sobre tudo faz parte da minha personalidade desde que ouvi a música Metamorfose
Ambulante do Raul Seixas.
Para ler Morte Súbita você tem que perseverar, a edição
que pretendo abandonar possui 652 páginas. Confesso que já tinha lido mais de
300 e ainda estava meio perdido com a história, os personagens e os diversos
núcleos que envolviam a cidade de Pagford. Tudo girava em torno da vaga aberta no
conselho da cidade após a morte do professor Barry Fairbrother. A aparência idílica
do vilarejo esconde uma guerra de ricos contra pobres, filhos com os pais,
esposas com os maridos e moradores de bairros nobres contra a periferia. Barry
nasceu na periferia e venceu graças aos estudos na escola de Pagford, desejava
isso para todas as crianças e era ferrenho lutador pela expansão dos direitos a
todos. Os moradores tradicionalistas esbravejam e culpam a periferia pelas
drogas, a prostituição, e o dinheiro dos impostos de Pagford revertidos para
clínicas de reabilitação e ajuda financeira aos ‘desocupados’.
Não nego que sou fã da saga Harry Potter, acho que a
criação daquele universo tão rico em detalhes e sofisticada trama só poderia vir
de uma cabeça privilegiada. A autora J. R. Rowling continua com essa verve, ela
constrói outra cidade, dá vida a um número considerável de personagens, cria
uma trama que se torna instigante com o avançar das páginas, com humor e revelações inesperadas, tudo no
ponto certo para a construção da personalidade de cada personagem, todos, sem
exceção, sempre cheios de ambivalências. Agora estou curioso para saber se você
vai “comprar” meu depoimento.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Ponto de ônibus do Porto da Barra
Data: 29/08/2015
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