Mas o que uma coisa tem a ver com a outra? Simples meu caro
leitor, a obra foi entregue à população longe de estar cem por cento concluída,
mas o que se vê está muito bonito, e as pessoas voltaram a circular pelas
calçadas. Aproveitando que é verão, e para fortalecer minha lombar prejudicada por
uma queda da escada enquanto finalizava a montagem da luz de um show, comecei a
andar pela orla todos os dias e tenho visto todo tipo de falta de educação, não
a acadêmica, mas a de berço. Das mais simples como jogar lixo no chão até a
mais grotesca como descer até à praia e defecar nas pedras quando há banheiros
públicos próximos e bem conservados.
Hoje pensei nos famosos manuais de etiqueta e boas maneiras
que existem por aí, dos mais variados autores e preceitos, e me lembrei do
livro Na Sala com Danuza. Não posso de imediato classifica-lo como um manual
porque o estilo de escrita de Danuza está mais para crônica do que receita e
sua leitura além de muito instrutiva é ainda muito atual. Apesar de publicado
em 1992, quando ainda não havia a febre da internet e dos celulares, suas dicas
para o uso do telefone ainda valem se aplicadas em conjunto com uma boa dose de
bom senso. Suas crônicas quebram várias regras dogmáticas, exageros e modismos,
somos apresentados a pequenos gestos que podem melhorar muito nosso dia a dia e
a convivência com quem está à nossa volta. É justamente esse tom que ainda dá
atualidade ao texto escrito no finalzinho do século passado.
Na semana passada durante minha caminhada eu vi uma cena
inusitada. Uma família andava pelo calçadão quando o pai jogou uma lata de
cerveja vazia no chão. A filha que devia ter uns seis anos de idade pegou a
lata e disse: “Pai, no chão não, joga na lata do lixo”. Então ela caminhou uns três
metros e jogou a lata na lixeira voltando toda sorridente. A mãe sorriu de
volta e o pai, irritado por ter sido repreendido pela filha, deu um tapa na
cabeça dela e disse: “Não envergonhe seu pai na rua sua diaba!”. A filha
segurou a mão da mãe e chorou, talvez porque o tapa doeu ou talvez porque se
sentiu confusa sem saber se tinha feito certo ou errado ao jogar a lata no
lixo. Os três seguiram sem dizer mais nenhuma palavra. Eu fiquei parado vendo
aquelas pessoas se distanciarem e me emocionei com aquela menina. Será que ela
vai resistir ou vai sucumbir?
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Restaurante Iemanjá
Data: 21/03/2015
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