Os meses de junho e julho são
aqueles que considero meses de entressafra, há uma sensação
de férias pairando no ar devido ao intervalo escolar e lembro
bem de quando era garoto os cinemas só exibiam filmes
infantis, era a hora e a vez das crianças e adolescentes
formarem filas para ver Os Trapalhões, Xuxa e afins. O mesmo
acontecia com as livrarias, suas vitrines eram quase temáticas
com apelo maior que em outubro. Eu sempre vivo nessa época uma
expectativa das minhas próprias férias e isso 70% das
vezes significa viajar. Primeiro vem àquela sensação
de querer dormir dias inteiros, separar-me física e
mentalmente de todas as atribulações que tenho e
entregar-me ao desfrute de dormir por 12 ou 14 horas seguidas e, sem
nenhum compromisso a cumprir, viver o ócio sem qualquer rastro
de culpa.
Como sou um homem velho sempre tenho
aquela preguiça inicial de programar a viagem, e muitas vezes
o faço com aquele pensamento: ‘se quiser posso desistir a
qualquer momento’, tamanha a letargia que me consome,
principalmente nos dias que antecedem o processo de arrumar mala,
esperar para embarcar, conseguir um taxi, etc. Não tenho o
espírito on the road da minha amiga Cybelle, essa se
pudesse vivia na estrada, dirigindo, tal qual Thelma e Louise no
filme homônimo.
Mas toda vez que penso nessa letargia
eu lembro da Maude, um personagem literário que já
virou filme e peça de teatro, do livro Hadold e Maude, ou como
muitos conhecem; Ensina-me a Viver. Harold é um garoto
enxaqueca de quase vinte anos apaixonado pelo tema da morte, ele
passa os dias falsificando falsos suicídios que já não
causam o menor efeito em sua mãe, que, resignada, tenta a todo
custo arranjar uma namorada para o filho com a certeza de que quando
ele se apaixonar vai parar com suas esquisitices. Maude é uma
senhora de quase oitenta anos, apaixonada pela vida que enche seus
dias numa incessante busca por aventuras, crescimento, aprendizados e
novas experiências. Maude é tão bizarra quanto
Harold, embora em polos opostos, e isso os atrai a ponto de virar
romance, o que pode parecer estranho à primeira vista torna-se
uma lição de vida quando nos damos conta que ambos
fazem coisas comuns da existência humana que é viver,
rir, chorar, amar e morrer.
Ensina-me a viver é um livro
clássico, está em qualquer lista de livros que você
tem a obrigação de ler antes de morrer, já
inspirou milhões de pessoas mundo afora e tornou-se cult. Foi
imortalizado nas telas com Ruth Gordon e Bud Cort, eu vi muitas
versões no teatro, a última com Glória Menezes e
Arlindo Lopes nos papéis principais e outra amiga Ilana Kaplan
fazendo a mãe de Harold, impagável.
Uso meu lado Maude sempre que arrumo
uma mala para viajar, fico imbuído pelo seu espírito
aventureiro, quantas pessoas vou conhecer, quais lugares serei
apresentado, quantos espetáculos assistirei, quais comidas
provarei, e além do inovador fico feliz em rever amigos
queridos em terras por onde já passei.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Porto da Barra - Banco da praça em frente ao Instituto Mauá
Data: 06/09/2014