domingo, 12 de janeiro de 2014

A MULHER QUE MATOU OS PEIXES


É verão, um sol estarrecedor brilha lá fora, da janela do meu quarto onde agora escrevo vejo um céu azul esplêndido, uma canícula, como diria meu amigo Ricardo Linhares, pessoas passam pela calçada rumo à praia do Porto da Barra, ciclistas trafegam pra lá e pra cá naquelas bicicletas de cor laranja que são patrocinadas por um banco e fazem parte do projeto Salvador Vai de Bike. Mesmo com todo esse esplendor acordei com uma sensação de melancolia, talvez ainda não tenha caído a ficha de que é verão e nessa estação as pessoas que moram em balneários tem quase uma obrigação de sair às ruas, tomar sol e ser feliz, haja vitamina D.

Tomando um copo de suco de laranja de caixinha, minha nutricionista vai me matar quando ler isso, mas é de caixinha sim porque não tenho a menor aptidão para a cozinha e não consigo me imaginar espremendo uma laranja, pensei nessa melancolia e imediatamente fui remetido a autoras como Marguerite Duras, Lya Luft, Marguerite Yourcenar e claro, Clarice Lispector (1920-1977), minha mestra da introspecção.

Entretanto é verão e não posso, nem devo, passar essa minha inusitada melancolia matinal para você, nobre leitor desse blog. E foi com essa intenção que fui buscar um livro divertido da minha autora preferida intitulado A Mulher Que Matou os Peixes, uma fábula sobre animais de todas as espécies.

Ela começa o livro confessando um crime, e como ré confessa pede perdão aos leitores pelo infame homicídio duplamente qualificado de dois peixinhos vermelhos. Mas só nos contará como cometeu tal crime no fim do livro, não se trata de um suspense aleatório, Clarice não é disso, ela reserva o começo e o meio do livro para contar outras histórias de bichos que teve para nos cativar e perdoa-la no final.

A partir daí conheceremos a macaca Lisete, os cachorros Dilermano, Jack e Bruno, a lagartixa Pequena, coelhos, periquitas e muitos outros. São histórias sobre afeto e compreensão e nelas estão seus bichos de estimação, os que vieram sem ser convidados e foram ficando e os que ela escolheu para criar.

Já escrevi isso aqui e não me canso de repetir, saudade de uma Clarice Lispector em nossas vidas.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Shopping Barra - Entrada escada rolante G-Norte
Data: 16/03/2014

2 comentários:

  1. Ooown! Eu encontrei essa delicinha de livro lá no shopping Barra. Fiquei igual a uma criança quando ganha um brinquedo novo! Eu amo Clerice Lispector e coleciono todos os livros dela, mas esse eu não conhecia. Mas não se preocupe, assim que terminar de ler ( daqui a pouco) vou abandoná-lo pra que outra pessoa possa ficar feliz como eu. Adorei a iniciativa. Muito obrigada!

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  2. Jamile,
    Fiquei emocionado com o seu relato e muito feliz por te proporcionar conhecer mais um livro de Clarice. Desfrute-o.
    Obrigado por visitar o blog e registrar o seu achado.

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