domingo, 15 de dezembro de 2013

TREM NOTURNO PARA LISBOA


Esta é uma época muito propícia para pensar nos amigos e embora eu tente fazer isso durante todo o ano, quando chega o mês de dezembro e somos tragados pelas mensagens de “amor, paz, amizade”, distribuídas gratuitamente pela TV, rádio, jornal, redes sociais, fica quase impossível não se envolver. E quando digo “quase impossível” é porque recentemente li um post chamado “Saudade de Mim” no Blog do Roberto Camargo, e parei para pensar na qualidade da minha amizade com o Roberto e o quanto hoje em dia nos isolamos de nós mesmos tentando ficar antenados e plugados vinte e quatro horas por dia com a humanidade.

Ele é um amigo herdado dos tempos que eu morava em São Paulo. Isso porque Roberto era amigo do Ricardo Castro, e quando este voltou a morar em Salvador nós nos aproximamos muito, ele é gaúcho e eu baiano, ambos chegados à pauliceia e com pouquíssimos amigos. Nesses quase dezessete anos de amizade tivemos altos e baixos, concordamos e divergimos em vários aspectos, mas nunca sem perder a ternura e o carinho que sentimos um pelo outro. Agradeço sempre o legado cultural que o Roberto traz para minha vida, de Corine Rae à diva Stacey Kent, do grupo Terça Insana à Bertold Brecht passando pela sua maior intérprete no Brasil, Cida Moreira, dos encontros em sua casa regados a bebidas e conversas variadas, música e boa comida. Isso sem falar nos livros, muitos livros.

Pegando o foco sobre o quanto uma pessoa pode transformar a vida de outra, lembrei-me de um livro que o Roberto me emprestou quando estive em sua casa pela última vez, Trem Noturno Para Lisboa, escrito por Peter Bieri (1944) sob o pseudônimo de Pascal Mercier. No livro somos contemplados por duas histórias, na primeira pessoa pelo professor de línguas clássicas, Raimund Gregorius, cuja vida seguia uma rotina de invisibilidade até o encontro com uma mulher portuguesa no caminho para a escola. Desse encontro Gregorius toma uma atitude inusitada, levanta-se no meio de uma aula e sai da sala assustado com a súbita consciência de que a vida se esvai. Na busca pela incógnita mulher ele vai parar na sua livraria preferida e numa sucessão de estranhos fatos daquela manhã lhe cai às mãos um raro exemplar de um livro escrito pelo médico, poeta e pensador português Amadeu de Prado.

A partir desse momento seremos tragados pelas duas histórias, Gregorius e Prado, e uma infinidade de reflexões sobre solidão, finitude, morte, amizade, amor e lealdade. No fim na leitura fiquei com a sensação de que fugir de uma rotina opressora nem sempre é fácil, assim como conhecer pessoas, compreender suas vidas, e saber o que cada um acrescenta para o conhecimento de nós mesmos.

O exemplar desse livro que o Roberto me emprestou está aqui em casa, com todos os grifos feitos por ele, comprei outro somente para abandonar e nele tomei a liberdade de acrescentar os grifos do Roberto e os meus. Boa leitura para você que o encontrar.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Varanda do Restaurante Rama - Barra
Data: 18/01/2014

2 comentários:

  1. Assim você mata o véio...rsrs. Obrigado pelo carinho. Que bom que os livros nos unem ainda mais... E venha mais a SP!!

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  2. Odilon,
    Certa vez já encontrei um livro (na época não sabia que se abandonava livros de propósito)
    Genial a iniciativa!
    Que tal escrever os textos antes de abandonar o próximos livros?! Aí dá pra gente ir lá encontrar?! Kkkkkkkkkkkk
    Brincadeirinha :)
    Parabéns pelo blog.
    Abração

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