domingo, 8 de dezembro de 2013

O VERÃO ANTES DA QUEDA


Estou há dias pensando em como escrever sobre Doris Lessing (1919-2013), sua morte recente em 17 de novembro fez com que minha memória, que já não é tão boa, ficasse remoendo fatos e acontecimentos. O fato é que li pouco a obra dessa autora e estava relutante em abandonar um dos poucos livros que tenho dela. Mas não posso me furtar ao compromisso assumido aqui no blog e a leitura que fiz de artigos sobre Doris durante esses dias só reforçou a urgência em homenageá-la.

O Verão Antes da Queda não é um livro feminista, publicado em 1973 com o título original de The Summer Before the Dark conta a história de Kate Brown. Principal personagem do livro, Kate é uma mulher de 45 anos, charmosa, competente e muito inteligente. O marido se ausenta durante uma temporada de verão e os filhos já adultos do casal não moram mais em casa. Coincidentemente às novas perspectivas profissionais que se abrem para Kate, ela conhece e apaixona-se por um homem bem mais novo. Um futuro totalmente novo estava lhe acenando, realizações materiais e sentimentais a tentavam, o jovem amante acabaria por fazê-la confrontar-se com o passado trazendo a tona coisas que ela pensou ter esquecido.

Relendo hoje esse livro e comparando-o aos mais diversos tons de cinza, e a toda literatura erótica que veio no seu rastro, percebo a força das palavras de Doris numa época que as feministas mais ferrenhas taxavam e categorizavam tudo que viam pela frente. É um bom livro, complexo e lindamente escrito, com excelentes perfis dos personagens que nele circulam e um bom final de efeito comovente.

Doris Lessing ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 2007 e sofreu uma enxurrada de críticas; Harold Bloom, crítico literário, definiu a decisão como “politicamente correta” e disse: “Ainda que a senhora Lessing no começo de sua carreira tenha tido algumas qualidades admiráveis, penso que seu trabalho nos últimos anos é um tijolo”. Outro crítico, Marcel Reich-Rannicki, considerou o Nobel como uma “decisão decepcionante” e declarou na feira do livro de Frankfurt: “A língua inglesa tem escritores mais importantes e mais significativos como John Updike e Philip Roth”. Também Umberto Eco admitiu certa surpresa na premiação e declarou: “É estranho que um autor de língua inglesa venha a ganhar o prêmio tão pouco tempo depois de Harold Pinter”.

Passados um ano da premiação Doris Lessing disse num programa de rádio que o fato de ter recebido o prêmio redundou num “maldito desastre”. Isso porque a demanda da mídia com pedidos constantes de entrevistas e fotos lhe tirou toda a energia para escrever uma linha que fosse nos últimos tempos.

Ela era assim.

Cidade do abandono: Rio de Janeiro/RJ - Salvador/BA
Local: Voo 2534 - Azul - Bolsa da poltrona 12D
Data: 16/01/2014

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