domingo, 29 de julho de 2012

MINHA VIDA


Lá vou eu de novo falar em histórias... É fato, mas isso é o meu grande motivador para a leitura desde a adolescência. Hoje volto um pouco ao passado já que personalidades biografadas que tiveram uma contribuição com o comportamento dito moderno não morrem jamais, e os livros, assim como outras mídias, tem função importante para que não ocorra esse esquecimento.

Dito isso apresento a vocês o livro Minha Vida cuja personagem biografada é Isadora Duncan (1877-1927). Considerada a pioneira da dança moderna por usar as técnicas do balé clássico para movimentos mais soltos, inspirados no vento, nas plantas, com os cabelos soltos e sem sapatos. Algo totalmente impensado para os clássicos da época. Também na vida privada Isadora não era muito convencional, casou-se três vezes e reza a lenda que só consentiu com os casórios porque sabia que podia separar-se caso necessário, e assim o fez com os três maridos.

No livro que pretendo abandonar há uma indicação de que a biografia foi muito planejada mas só foi concluída no verão de 1927 e Isadora faleceu sem ter feito a última leitura do manuscrito, por isso tudo que foi publicado não foi corrigido ou suprimido.

Isadora Duncan morreu de uma forma inusitada. Em Nice, ao passear com um amigo num carro de corrida, a echarpe que a princípio esvoaçava ao vento prendeu-se na roda traseira do carro. Sem que houvesse tempo de pedir por socorro ou mesmo fazer um simples gesto ela foi estrangulada com tal violência que, acredita-se, sua morte foi quase instantânea.

Uma fatalidade interrompe aos 50 anos uma vida riquíssima, e deixa um legado que jamais será esquecido.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Salvador Shopping - Louge em frente a Etna
Data: 11/11/2012

sábado, 21 de julho de 2012

VALE TUDO - TIM MAIA


“Sou preto, gordo e cafajeste, formado em cornologia, sofências e deficiências capilares.” Assim se autodefinia Tim Maia (1942-1998) e quem nos conta isso é Nelson Motta (1944), a partir de uma imensa pesquisa e de uma intensa convivência, uma história de som, fúria, muita fúria, amores, chifres, brigas, muitas brigas, drogas, bebidas, shows maravilhosos, muitos shows maravilhosos, vários não realizados, amigos, dinheiro e gargalhadas, muitas gargalhadas.

Uma biografia deliciosa de ler, pontuada em ordem cronológica desde o nascimento e também através do peso adquirido pelo artista ao longo da sua existência. É muito interessante a forma com que o Nelson Motta nos conduz ao mundo de Tim Maia, desde a infância, a vida com os pais, a ida aos Estados Unidos que seria um marco para o seu som, a volta ao Brasil, os programas da Jovem Guarda, o sucesso, a independência financeira, a independência das gravadoras, a preocupação com a administração do dinheiro, as festas regadas a mulheres, bebidas e drogas, muitas drogas.

Era incrível a capacidade do Tim de se autodestruir, alias, acho que isso é o mal dos gênios, ou daquelas pessoas especiais em suas áreas de atuação. Será que a vida breve faz com que esses ídolos/ícones sejam cultuados para sempre? Impossível que várias gerações não estejam marcadas de alguma forma com a música do Tim, sua voz potente e seu fabuloso sentido rítmico. A minha teve o privilégio de ter sido embalada por grandes sucessos e eu particularmente tive a oportunidade de assistir ao Tim em algumas fases, aqui em Salvador no antigo Troféu Caymmi e em São Paulo em vários momentos. Azul da Cor do Mar, Sossego, Chocolate, Gostava Tanto de Você, Primavera, Você, Não Quero Dinheiro, Me Dê Motivo, O Descobridor dos Sete Mares, Vou Pedir Pra Você Voltar, Não Vou Ficar, Do Leme ao Pontal, W Brasil, me fizeram dançar, cantar e ser feliz, muito feliz.

“Mais grave! Mais agudo! Mais eco! Mais retorno! Mais tudo!”
Tim Maia

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: MAM - Museu de Arte Moderna
Data: 29/09/2012

sexta-feira, 13 de julho de 2012

O MONSTRO DE OLHOS AZUIS


Continuando a série de livros sobre biografias hoje vou escrever sobre um tipo muito comum de livros, verdadeiros caça níqueis literários; a biografia de famosos. Muito comum na Inglaterra e em Hollywood, existem biografias de famosos de tudo quanto é tipo: por fases da vida, biografias autorizadas, não autorizadas, póstumas, mas ao contrário daqui onde alguns biografados conseguem na justiça o embargo da obra, lá isso não é possível. Só para vocês terem uma ideia, há mais de 40 biografias da Lady Dy, a cantora Adele já lançou a primeira e por aqui até o cantor/ator Fiuk já “escreveu” a sua, para o delírio das fãs.

Longe de ser uma obra relevante, apesar de muito bem escrita, Monstro de Olhos Azuis é uma biografia parcial da atriz Tonia Carrero (1922), escrita pela própria como enfatizam os editores o livro revela uma fase bem romântica da vida entre a infância e a adolescência. Uma reconstituição minuciosa dos fatos, pessoas, acontecimentos, sentimentos, da solidão de uma menina, suas alegrias e decepções, escritas com uma narrativa pungente e por vezes emocionada.

Os fofoqueiros de plantão deram com a cara na porta, não há detalhes picantes, nem abusos, ou sofrimentos exacerbados, é uma infância de outros tempos, afinal Tonia nasceu na década de 20 do século passado e era outro tipo de criação e vivências. Os cheiros da casa da avó, a Bá que ajudou na sua criação e todos os irmãos, o primeiro amor, as comidas, as festas, etc.

Eu recomendo a leitura, como se você estivesse vendo um filme antigo, uma reconstituição de época, ou simplesmente como uma forma de conhecer melhor a base que sedimentou a personalidade da atriz, uma das damas do teatro brasileiro.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Salvador Shopping - Em frente a Lojas Americanas
Data: 30/09/2012

sábado, 7 de julho de 2012

UMA VIDA INVENTADA


Minha memória diz que eu lembro da Maitê Proença (1958) da novela As Três Marias, que atuava junto com a Glória Pires e a Nádia Lippi. Mas para mim foi em Guerra dos Sexos que ela despontou como uma mulher forte, bonita e desejada pelas revistas masculinas. Eu gosto muito da fase GNT, diga-se Saia Justa, em que a atriz se torna persona e põe pra fora na TV opiniões e conceitos que já havia começado a escrever para uma seleta plateia que comprava a revista Época entre 2003/2004.

Este não é o primeiro livro da atriz/escritora, mas é o primeiro que fala de si de um jeito tão especial. Misturando literatura e vida real, verdades cruas e um pouco de imaginação, como num jogo de esconde esconde, embora para o leitor seja fácil perceber quando é realidade e quando é ficção. Não pense em dramas e tragédias de uma vida amargurada, foi sofrida, penosa, mas de um jeito engrandecedor. Tem o devido peso nas revelações mais fortes, e até surpreendentes, mas no todo é uma narrativa divertida, bem humorada e irônica com casos surpreendentes entremeados com a história quase ficcional de uma menina que quer desbravar o mundo.

Maitê diz: “Não sei o que faço aqui. Com quem estou falando? Por que essas revelações? Isso de passar a vida interpretando textos de outras criaturas vai abafando a própria voz. (...) Talvez esteja tentando construir uma ponte mais sólida entre mim e as pessoas porque preciso me comunicar para sair do isolamento onde me enfiei para me proteger, ora... da solidão. Escrevo contra a solidão. E quando eu derramar aqui toda a intimidade, com a lista exposta a minha frente nessa associação livre, talvez a vida se revele dando algum sentido à caminhada.”

Para muitos o nome de uma atriz da Globo na capa de um livro significa o mesmo que “não compre”, mas na minha humilde opinião vale a pena conhecer as personagens reais encenadas pela atriz e reinventadas pela escritora, o livro vale o que se paga por ele, se duvidar, você ainda sai no lucro.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Praça Municipal - Rua Chile
Data: 09/09/2012

terça-feira, 3 de julho de 2012

SÓ AS MÃES SÃO FELIZES


Hoje começo uma nova série de livros que pretendo abandonar e que será sobre biografias. Confesso que estou empolgado porque gosto imensamente de biografias, sejam elas autorizadas ou não e principalmente quando o biografado tem, ou teve, uma vida rica, não exatamente de dinheiro, mas de valores e experiências.

Para começar com todo gás vou me desfazer de um livro importantíssimo na minha vida: ‘Só as Mães são Felizes’. Em um depoimento dado à escritora/jornalista Regina Echeverria num tom quase confessional, Lucinha Araujo, mãe do Cazuza, relata fatos da vida de seu único filho morto em 1990 em consequência da AIDS.

Todo mundo conhece o Cazuza e já sabe que ele está morto, mas, ao ler o primeiro capítulo cujo título é “O Inevitável” é impossível não se emocionar. Como mãe, Lucinha consegue chegar aos nossos corações de forma ímpar. É o relato de uma mãe que conta como foram os últimos momentos do filho, contrariando a ordem natural das coisas, os mais novos enterram os mais velhos e a vida segue o curso.

Aqui confesso que demorei para conseguir ler esse livro. Primeiro por ser sobre o Cazuza, que tive a oportunidade de assistir em vários dos seus shows, tanto no Barão Vermelho quanto em carreira solo e nunca vou me esquecer da última vez que o vi cantando, já bem debilitado pela doença que o corroia. Segundo porque suas músicas embalaram importantes momentos da minha vida e isso não muda com a sua morte. Depois de ler três vezes o primeiro capítulo e não conseguir continuar a leitura do livro tamanha a emoção, na quarta vez que tentei fui direto para o segundo capítulo e só quando acabei voltei a ler o primeiro capítulo novamente. E mesmo agora, escrevendo esse post, estou emocionado só de lembrar.

Tem gente que vive 100 anos e tem uma existência morna, Cazuza viveu 32 em quase total ebulição, isso me fascina. Lendo essa visão maternal da sua existência consigo imaginar que nada acontece por acaso. O talento é nato e isso ninguém tira de você.

“Homem que é homem volta atrás, mas não se arrepende de nada.”
Cazuza

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Espaço Itau de Cinema
Data: 09/09/2012