sábado, 19 de maio de 2012

GOTA D'ÁGUA


Não resisto à obra de Chico Buarque, então decidi abandonar um clássico, nascido clássico, inspirado no clássico e com muitas clássicas interpretações, se me permitem.

Eu era criança quando vi Fernanda Montenegro interpretando Medéia no extinto programa Caso Especial que a Globo transmitia. A tragédia clássica de Eurípedes adaptada de forma muito bem sucedida para a TV marcou esse personagem em minha memória.

A partir dessa adaptação para a TV (1973), feita por Oduvaldo Viana Filho, Chico Buarque e Paulo Pontes transformam a história num musical (1975), estrelado por nada mais, nada menos, que Bibi Ferreira. O personagem Joana (Medéia) marcaria para sempre a carreira da atriz/cantora/diretora que até hoje, com quase 90 anos, ainda interpreta a música tema em seus shows.

A Medéia do clássico de Eurípedes se transforma em Joana no clássico Gota D’Água, mulher madura, sofrida, moradora de um conjunto habitacional, submetida pelos autores a uma injeção da nossa realidade urbana. Medéia é um clássico sobre reis, feitiços e vinganças, Gota D´Água é uma história sobre pobres, macumbeiros, personagens bem construídos para uma realidade que é nossa, e por extensão, de todos aqueles que sofrem na carne as contradições e as injustiças sociais.

Escrito em versos o texto transforma o nobre em vulgar, toda a pompa da tragédia grega é substituída pelo comum, a linguagem, mesmo em versos é quase chula, reis e príncipes dão lugar às pessoas do povo, os deuses da mitologia dão lugar às divindades do candomblé e Joana, Jasão e Creonte cumprem a sua saga.

“Pode ser a gota d’água, pode ser a gota d’água...” cantam os versos e você se arrepia. De novo, um clássico.



Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Museu Rodin
Data: 02/06/2012

2 comentários:

  1. Deixa em paz meu coração, meu coração...

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  2. ai, ai essas resenhas com gosto de quero mais... Quero tudo, ler o livro, ver a peça... a música eu já era apaixonada!
    beijos
    Carol

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