domingo, 24 de outubro de 2010

A TRAIÇÃO DE RITA HAYWORTH


Este foi o primeiro livro escrito pelo argentino Manuel Puig (1932/1990). Muitos aqui no Brasil acham que ele só escreveu ‘O Beijo da Mulher Aranha’ por causa da repercussão do filme dirigido pelo Hector Babenco, com Sônia Braga na fase belíssima, mas com um inglês horrível, e o Oscar de Melhor Ator (1986) para William Hurt pela atuação impecável no personagem homossexual Molina. Além do filme também houve o musical estrelado por Cláudia Raia, Miguel Falabella e Tuca Andrada em 2001, quando musicais no Brasil fora do estilo chanchada eram quase remotos. Ambos adaptados pelo próprio Manuel. Na Argentina sua obra mais famosa foi ‘The Buenos Aires Afair’, censurada pelo governo logo após sua publicação fez com que Manuel fosse morar no México face às inúmeras ameaças que recebeu.
Escrito originalmente como roteiro para o cinema e publicado como livro em 1968, A Traição de Rita Hayworth já mostra o estilo de Manuel Puig na construção da sua narrativa de formas até então inusitadas como: conversas telefônicas, cartas, diários, redações e diálogos de filmes. É um relato quase autobiográfico que analisa a influência dos filmes da década de 30 a 40 do século passado no dia a dia de uma pequena cidade da Argentina. Essa correlação do cinema com a vida das pessoas é uma marca singular da obra do autor e já nesse livro é muito marcante. Isso o tornaria um vanguardista de um movimento subterrâneo, silencioso e infrator que subverteria a indústria cultural cinematográfica norte-americana intitulado pela escritora Susan Sontag como ‘Camp’.
A Traição de Rita Hayworth, que também chegou a ter problemas com a censura na Argentina, alcançou relativo sucesso na Espanha, Itália e nos Estados Unidos, mas passou quase despercebido no Brasil. Na França seu sucesso foi imediato, muito bem acolhido pela crítica e público, sendo incluído pelo jornal Le Monde na lista dos cinco melhor livros estrangeiros publicados no fim dos anos 60.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Farmácia Bompreço - Loja do supermercado do Chame Chame
Data: 24/12/2010

domingo, 17 de outubro de 2010

ELENI


Este é o vigésimo livro que pretendo abandonar, por isso escolhi Eleni, de Nicholas Gage. Eleni é tragédia grega no seu sentido mais tocante. É uma narrativa esmerada e profundamente humana, uma história pessoal e ao mesmo tempo universal por tratar-se da escolha de uma mãe pelos seus filhos. Mas calma aê, não se trata de uma copia de A Escolha de Sofia, obra que foi filmada e projetou Meryl Streep ao patamar de diva do cinema mundial.
A história do livro é escrita pelo filho de Eleni, Nikola Gatzoyiannis, repórter do New York Times, que tem a oportunidade de realizar o plano da sua via: investigar a fundo a vida e a morte de Eleni Gatsoyiannis, fuzilada aos 41 anos de idade pelos guerrilheiros comunistas gregos. Na sede por vingar a morte da sua mãe ele entrevista mais de 400 pessoas que a conheceram, ou que, de algum modo, estavam ligadas à sua vida e a sua morte. Consultou diários, cartas, relatórios e mapas militares, juntou a isso suas próprias recordações e as das suas irmãs para voltar aos anos 20 do século passado e a partir desse mote descrever como era a vida em Lia, pequena aldeia grega perdida no alto das montanhas de Mourgana, perto da fronteira com a Albânia, seus costumes, tradições, ritos de nascimentos, casamentos e funerais, ofícios religiosos, a vida pastoril dura e primitiva que é completamente alterada com o advento da Segunda Guerra Mundial, a ocupação italiana, depois a alemã, e a guerra civil com todas as suas atrocidades que dilaceraram a Grécia por tantos anos e que custaram muitas vidas.
Desse relato surge a personagem Eleni que, apesar de toda a sua formação aldeã, criada num meio dominado por tradições e superstições, tudo superou por amor aos filhos. Eleni consegue que quatro dos seus cinco filhos saíssem do inferno que se tornou a vida na aldeia e fugissem para a América, pagou por isso com a vida. Mas até o fim, apesar das torturas que sofreu, Eleni conservou a firmeza e a nobreza dos seus sentimentos, suas últimas palavras registradas foram de amor aos filhos e não de vingança contra seus carrascos, e é essa atitude que irá mudar radicalmente as pretensões de Nikola, causando um desfecho inesperado no livro.
O livro é um tijolão, são quase 500 páginas, mas não se assuste, comece a ler, os bons livros entretêm e você ri, chora, e quando percebe já acabou.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Restaurante Digerir
Data: 20/12/2010

terça-feira, 12 de outubro de 2010

O EXORCISTA


Em 2011 o livro O Exorcista completará 40 anos. Desde o lançamento da primeira edição em 1971, passando pela estréia do filme homônimo em 1973, e suas duvidosas sequências, além de outros tantos livros decorrentes do primeiro, não houve uma publicação na categoria terror/thriller que suscitasse tantas polêmicas que vão desde como a Igreja Católica considera o Demônio, a acusação de que o autor explorava pornografia com crianças, o que valeu quase um ano de interdição pela censura brasileira ainda sob rédeas da ditadura militar sob o argumento de obra caluniosa, até uma pretensa maldição para o elenco que quase levou ladeira abaixo a carreira de Linda Blair, atriz mirim que interpretou a possuída Regan MacNeil.
A história é quase banal para os dias de hoje, durante escavações arqueológicas uma antiga estátua é encontrada e a partir daí um demônio chamadao Papazu é libertado. Longe dali uma jovem, aos poucos, começa a sofrer drásticas alterações de comportamento. Após fracassados tratamentos médicos e psiquiátricos a mãe de Regan pede ajuda ao padre Damien, também psiquiatra, e que naquele momento atravessa um conflito íntimo com a falta de fé. Para ajuda-lo o bispo local nomeia o padre Merrin para o ato religioso e a partir daí comecam os confrontos entre o demônio e os sacerdotes. No livro, o relato envolvendo sexo, vômitos e escatologia são fortes, mas não são as principais cenas como o roteiro do filme salienta, no livro o mais importante é o embate entre fé e descrença, esse é o mote da obra que muitos duvidam até hoje se foram baseadas em fatos reais ou não.
Polêmico para a época, motivo de ataques veementes e injuriosos dos mais reacionarios já que toca em um assunto tabu que é a religião, e a crença ou não aos dogmas e santos, o livro foi publicado no Brasil pela Editora Nova Fronteira e com o sucesso nas vendas os lucros puderam patrocinar o lançamento da primeira edição do Dicionário Aurélio. Os fins justificam os meios?
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Botequim Café - Salvador Shopping
Data: 27/11/2010

sábado, 9 de outubro de 2010

ED MORT E OUTRAS HISTÓRIAS


Luis Fernando Verissimo, sim o filho do não menos grande Erico Verissimo (Olhai os Lírios do Campo, O Tempo e o Vento, etc.), pai de Mariana Verissimo (Retrato Falado, Sexo Frágil, etc.), uma querida amiga que conheci quando morava em São Paulo, é um senhor escritor, e quando digo ‘senhor’ não me refiro aos seus 73 anos de vida, mas ao fato de ter lançado inúmeras obras como cronista, romancista, autor de peças de teatro, chargista e roteirista, desde os anos 50 do século passado. Antigo? Não, muito pelo contrário, atualíssimo, engraçado, político e dinâmico, com um arsenal de personagens que ficaram famosos como O Analista de Bagé, A Velhinha de Taubaté, As Cobras e Ed Mort.
Estou preparando o abandodo de Ed Mort e Outras Histórias, livro coletânia de crônicas lançado pela Editora LP&M em 1979 que imortalizaria e popularizaria ainda mais esse detetive trapalhão, de língua afiada, coração mole e sem um tostão no bolso, que se mete em todo tipo de encrencas e convive com 17 baratas e um rato albino chamado Voltaire. O livro é excelente e garante umas boas risadas com textos rápidos e sacadas muito inteligentes, afinal, esse detetive carioca tem sempre em mãos casos esdruxulos e inusitados.
Ed Mort virou filme dirigido por Alain Fresnot, com Paulo Betti no papel principal, virou também um especial de fim de ano da TV Globo com Luis Fernando Guimarães interpretando Ed, e também foi adaptado para o teatro em 1993, com atuação de Nizo Neto, baseado no episódio Procurando Silva, um clássico das aventuras de Ed Mort.
Tá bom ou quer mais?
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Salvador Shopping - Lounge Térreo
Data: 27/11/2010