domingo, 28 de junho de 2015

PIER PAOLO PASOLINI


Se você estava vivo na década de oitenta do século passado, e tinha algum interesse por literatura, então deve conhecer uma série da editora Brasiliense chamada Encanto Radical. Publicados até hoje, embora não seja possível adquirir edições antigas no site, os livros possuem tamanho/formato chamado “de bolso” e trazem biografias de personalidades diversas escritas de forma sucinta, com linguagem despretensiosa, geralmente assinada por professores, mestres ou doutores. Uma publicação ideal para quem quer ter uma noção dos fatos marcantes da vida e principais obras do biografado.

Tenho curiosidade sobre Pier Paolo Pasolini (1922-1975) desde que li Teorema, obra que também assisti em filme. Posteriormente vi outro filme dirigido por ele chamado Salò baseado no livro Os 120 dias de Sodoma, escrito pelo Marquês de Sade, que me deixou abismado, catatônico, e até hoje não sei se gosto ou não do filme. Mas lembro perfeitamente que uma garota vomitou no cinema, três filas à frente da minha, durante a famosa cena de coprofagia, não à toa até hoje o filme causa controversas e é banido em diversos países.

Coube ao Luiz Nazário (1957), doutor em História Social pela USP e excelente crítico de cinema, contar a história de Pier Paolo Pasolini, professor, poeta, novelista e cineasta, cuja mente nunca foi muito fácil de entender. Personalidade controversa e pensador obstinado, ele deixou um legado de livros, ensaios, filmes e peças de teatro, se a obra é boa ou ruim caberá a cada um julgar, afinal, estamos vivendo na era dos julgamentos. No pequeno livro há uma boa cronologia do biografado e uma excelente indicação bibliográfica para aqueles que querem se aprofundar.

Na pagina 32 encontramos o seguinte texto do Luiz Nazário:

“Pasolini considerava a recusa um gesto essencial dos santos, dos eremitas e, também, dos intelectuais. Os homens pouco numerosos que fizeram história foram os homens que disseram não. Para funcionar, a recusa deve ser grande e não pequena, total e não sobre tal ou tal ponto, “absurda” e não de bom senso. Quem recusa engaja toda a existência: numa palavra, lança seu corpo na luta.”

Agora é hora de pensar...

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Ponto de ônibus em frente ao colégio Módulo
Data: 15/08/2015

domingo, 21 de junho de 2015

TOCAIA GRANDE - A FACE OBSCURA


Dizem à boca miúda que Jorge Amado estava escrevendo “O Menino Grapiúna”, livro de memórias que foi publicado em 1981, quando teve uma ideia para mais um romance. Esse romance idealizado foi publicado em 1984 e se chama Tocaia Grande. Em bocas de Matilde dizem que o próprio Jorge Amado declarou que a escrita do livro se fez de déu em déu entre São Luis do Maranhão, Estoril, a casa de Itapuã em Salvador e a casa de Petrópolis. Perguntado sobre o porquê da demora na escrita do romance Jorge teria dito: “É que dessa vez não estou só escrevendo um romance, estou construindo uma cidade”.

E é exatamente isso, Tocaia Grande conta a história da construção de uma cidade e é justamente sobre a face mais obscura dessa construção. A face que todos querem negar e esquecer porque retrata um embate violento entre coronéis e jagunços onde houve muitas mortes e o chão, que era de terra e barro, ficou enlameado pelo sangue da batalha. A tocaia vai sendo alinhavada pela excelente narrativa de Jorge que explora com afinco e verdade o viés político, traições, fidelidades, e retrata as fazendas de cacau, suas mazelas e suas conquistas, as influências do coronelismo que não vê limites para a ambição, poder e mesquinhez.

Vamos acompanhar a genialidade de Jorge Amado na fundação e o desenvolvimento da cidade fictícia que começou graças a um acampamento de tropeiros, o surgimento da primeira casa, a segunda, a terceira, até que de povoado sobe a categoria de vila, tudo sob o ferro e o fogo do Coronel Boaventura. A saga ganha fatos inusitados como só Jorge Amado nos faria crer. E como quase sempre teremos um turco, um padre e uma dama para jogar pimenta na narrativa.

Tenho um carinho e um apreço especial por Jorge Amado, suas obras foram as primeiras da minha literatura adulta, e como bom baiano consigo entender os mistérios e as crendices desse universo de bocas miúdas e bocas de Matilde.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Pilar da escadaria da igreja da Barroquinha
Data: 14/08/2015

domingo, 14 de junho de 2015

NÃO CONTE A NINGUÉM


Quando escrevi sobre o livro Confie em Mim, post publicado em agosto/2013, e lá fiz uma referência de que o livro era uma paulada, já imaginava que o estilo de Harlan Coben (1962) havia me conquistado para sempre. Gosto de todo tipo de história, mas tenho um apreço enorme por escritores que nos fazem parar de respirar e torna o simples fato de fechar o livro antes de ler o último capítulo um ato heroico de desapego.

Harlan não tem o glamour dos ricos, muito ricos, de Sidney Sheldon. Ele escreve sobre gente comum em acontecimentos beirando a verossimilhança. Também não tem o estilo descritivo de um Dan Brown com seus mitos religiosos e templos cheios de esconderijos. O autor de Não Conte a Ninguém é direto, quase simplista, mas não esquece nenhum detalhe quando vai desvendar o grande mistério, e nisso ele se parece muito com a grande Agatha Christie que tinha por hábito nunca deixar nada sem explicação.

A historia desse livro é quase um roteiro cinematográfico, não à toa foi adaptado para o cinema em 2006 e abocanhou quatro estatuetas do César, prêmio importantíssimo para o cinema francês. Exatos oito anos após a morte de sua esposa por um suposto serial killer o médico David Beck recebe um misterioso e-mail que, aparentemente, só pode ter sido enviado pela sua esposa. Ao mesmo tempo dois corpos são encontrados perto do local do crime e junto a eles está o taco de beisebol usado contra David no fatídico dia do rapto e morte de Elizabeth. Na mira da polícia o caso é reaberto e David torna-se o principal suspeito, o agora fugitivo Dr. Back descobre que também é vigiado por um assassino implacável disposto a atos de tortura extrema para saber se Elisabeth está realmente viva.

Nesse redemoinho que a vida do pacato Dr. Beck se torna ele terá a ajuda fundamental de três pessoas: sua melhor amiga, a modelo Shauna, a célebre advogada Hester Crimstein, e um traficante de drogas cuja vida do filho ele salvou. Esse trio inusitado ajudará David e Elizabeth a se reencontrar? Só lendo para saber.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Edf. Fleming - Sala do laboratório
Data: 05/08/2015

domingo, 7 de junho de 2015

XÓGUM - A GLORIOSA SAGA DO JAPÃO


Dependendo da edição que você tiver em mãos o romance Xógum – A Gloriosa Saga do Japão pode conter até 1200 páginas, o que pretendo abandonar possui 1040 dividido em dois volumes. É uma edição feita com fonte pequena e impressa em papel jornal, recurso muito comum no passado para baratear uma obra que seria vendida nas bancas de jornal e não nas livrarias. O número de páginas de um livro pode espantar os leitores mais afoitos e menos habituados às grandes obras da literatura universal, mas uma coisa é possível garantir a quem se aventurar: serás bem recompensado.

A história escrita por James Clavell (1924-1994) com ares hollywoodianos, gira em torno do capitão inglês John Blackthorne e sua vida após o naufrágio do seu navio em águas japonesas nos anos 1600. O início é muito marcado pelo choque de culturas, era uma época marcada pelas conquistas dos continentes, comércio e soberania religiosa, tudo isso envolto num Japão cheio de tradições e respeito à ancestralidade dos seus dogmas e dividido entre dois daimyos: Ishido e Toranaga, em luta constante pelo poder. John, agora chamado de Angin (que significa piloto na tradução do cargo que ocupava no navio) vai modificando seu modo de agir adaptando-se aos costumes japoneses. Num golpe de sorte consegue ajudar Toranaga a fugir da “obrigação” de cometer suicídio imposta pelo Conselho de Regentes e é alçado a conselheiro no intrincado jogo entre daimyos, samurais, jesuítas e comerciantes. Graças a sua intérprete Mariko, John/Angin vai estabelecendo uma relação de confiança com Toranaga, ao mesmo tempo em que vê nascer uma paixão proibida por Mariko, casada com um dos mais cruéis capitães do feudo que acompanha Toranaga.

Seria maravilhoso acompanhar Toranaga na batalha de Sekigahara, ponto onde o livro termina, e aí já nem importa tanto que destino John/Anjin e Mariko terão na história. A essa altura do livro você já estará completamente envolvido com a sociedade japonesa no início da Era Tokugawa que culmina com a batalha. Para ler sobre ela você terá que embrenhar-se em outra obra, Musashi, de Eiji Yoshikawa.

Lançado no Brasil pela editora Nordica em 1981, Xógum já foi adaptado para a TV com Richard Chamberlain no papel de John Blackthorne e Toshiro Mifune como Toranaga. Também foi transformado em musical para a Broadway e virou jogo para computador. Uma saga além das fronteiras do papel.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Balaustrada da Praça Castro Alves
Data: 01/08/2015