O livro conta a história de um jornalista decidido a
investigar o paradeiro de uma famosa cantora, Dulce Veiga, que desapareceu no
dia da estreia do seu primeiro grande show há vinte anos. Publicado pela
primeira vez em 1990 a obra foi recebida com receio, havia uma desconfiança de
que o gênero romance pudesse diluir a potencia narrativa dos contos já
publicados pelo autor, cuja técnica lhe valeu alguns prêmios. Entretanto Caio
escreve uma história quase explosiva ao ligar cenas curtas de alto impacto,
entremeadas de momentos esmagadoramente plácidos, quase beirando a linguagem
cinematográfica de filmes noir.
Mas não seria Caio Fernando Abreu se a busca do jornalista
não o conduzisse pelo submundo da vida noturna e o fizesse encontrar os mais
bizarros tipos humanos, essa é a graça da leitura. Você percebe a densidade das
ações, buriladas dolorosamente para a construção de uma obra inquietante e
sempre renovada. Ao fazer o jornalista perseguir pistas da cantora desaparecida
acaba traçando a trajetória de todos nós de maneira sutil, fluida. A busca
acaba sendo ampliada para além do paradeiro de Dulce Veiga, ganha a projeção de
nós mesmos.
Quem lê Caio Fernando Abreu é tocado de alguma forma, como
uma navalha que pode fazer um corte sutil e também pode cortar fundo, um corte
carregado de vida, morte, paixão, angústia, agonia, serenidade e amor. O toque
da navalha de Caio não sangra, mas deixará uma cicatriz para sempre. Disso eu
tenho certeza.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Sofá do foyer do Teatro Vila Velha
Data: 13/06/2015
Amo esse livro, assim como toda a obra de Caio. Guilherme de Almeida Prado adaptou para o cinema, mas o resultado ficou bastante aquém da obra literária. Mas Caio é sempre bom!
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