domingo, 12 de abril de 2015

ONDE ANDARÁ DULCE VEIGA?


Estava procurando um livro na estante quando dei de cara com ‘Onde Andará Dulce Veiga?’ obra do genial Caio Fernando Abreu (1948-1996) de quem já falei muito aqui no blog no ano passado ao escrever sobre Morangos Mofados e Os Dragões Não Conhecem o Paraíso. Este livro estará nas livrarias na categoria Romance, um estilo pouco visitado pelo autor que era um cronista de mão cheia. Mas não se engane o leitor que ainda não conhece as histórias do Caio, ao terminar a leitura sentirá o mesmo amargo na boca, sentirá o quanto perdeu por ainda não ter lido seus escritos, seu fino humor, nosso companheiro de viagem, aquele que fala de amor de uma forma tão intensa quanto gostaríamos de tê-los vivido.

O livro conta a história de um jornalista decidido a investigar o paradeiro de uma famosa cantora, Dulce Veiga, que desapareceu no dia da estreia do seu primeiro grande show há vinte anos. Publicado pela primeira vez em 1990 a obra foi recebida com receio, havia uma desconfiança de que o gênero romance pudesse diluir a potencia narrativa dos contos já publicados pelo autor, cuja técnica lhe valeu alguns prêmios. Entretanto Caio escreve uma história quase explosiva ao ligar cenas curtas de alto impacto, entremeadas de momentos esmagadoramente plácidos, quase beirando a linguagem cinematográfica de filmes noir.

Mas não seria Caio Fernando Abreu se a busca do jornalista não o conduzisse pelo submundo da vida noturna e o fizesse encontrar os mais bizarros tipos humanos, essa é a graça da leitura. Você percebe a densidade das ações, buriladas dolorosamente para a construção de uma obra inquietante e sempre renovada. Ao fazer o jornalista perseguir pistas da cantora desaparecida acaba traçando a trajetória de todos nós de maneira sutil, fluida. A busca acaba sendo ampliada para além do paradeiro de Dulce Veiga, ganha a projeção de nós mesmos.

Quem lê Caio Fernando Abreu é tocado de alguma forma, como uma navalha que pode fazer um corte sutil e também pode cortar fundo, um corte carregado de vida, morte, paixão, angústia, agonia, serenidade e amor. O toque da navalha de Caio não sangra, mas deixará uma cicatriz para sempre. Disso eu tenho certeza.

Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Sofá do foyer do Teatro Vila Velha
Data: 13/06/2015

Um comentário:

  1. Amo esse livro, assim como toda a obra de Caio. Guilherme de Almeida Prado adaptou para o cinema, mas o resultado ficou bastante aquém da obra literária. Mas Caio é sempre bom!

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