Houve uma fase em minha vida que eu lia tudo que me caia às
mãos, e quando digo tudo, quero realmente dizer T-U-D-O. De quadrinhos do
Tio Patinhas aos romances açucarados Bianca e Sabrina, de clássicos da
literatura que faziam parte do calendário escolar aos livros ditos proibidos
para menores, livros emprestados da biblioteca e também aqueles surrupiados de
minha tia Liane. Mas engana-se o leitor desse blog se pensar que eu era um nerd
solitário com um livro nas mãos dentro de um quarto, isso nunca. Fui garoto de
rua que passava férias no interior e quando mudamos para um prédio de
apartamentos descia para brincar no playground, com direito a turma, várias
amizades e algumas inimizades. Também não era o sabichão da turma, o famoso "CDF", sempre fui um aluno médio, com boas notas em português (claro), história,
geografia, e notas suficientes para passar de ano em matemática, ciências, etc.
Para encerrar a série de livros que li ainda jovem escolhi “Em
Nome do Desejo” do João Silvério Trevisan (1944). Era um livro proibido, tinha
acabado de ser lançado e já era rechaçado pela então ditadura militar em nome
da moral e da família. É claro que tudo que era
proibido eu logo queria saber. Na minha mais humilde opinião, eu
recomendaria a leitura para jovens com mais de 15 anos. Acho o livro muito
comovente e esclarecedor a respeito da diversidade do amor.
Com meus 20 anos, recém completados em 1983, cheio de
testosterona e curiosidade, fiquei perturbado ao ler o verbete: “Denso e
trágico, mas sem perder o humor e a leveza, o livro do jornalista e escritor
João Silvério Trevisan conta a história de amor entre os seminaristas Abel e
Tiquinho, jovens divididos entre a mortificação da carne e a exaltação da alma,
presos entre as glórias do divino e a ebulição dos hormônios da adolescência.
Um romance sobre o despertar do sexo”.
É uma obra de aparente simplicidade, entretanto o autor
consegue enredar muitos detalhes e vários fios da diversidade amorosa entre
adolescentes. A anatomia do amor de uma paixão carnal e a cultura que ao mesmo
tempo o promove, mas também o torna objeto de punição.
É ler e tirar suas próprias conclusões.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Aeroporto Luis Eduardo Magalhães - Praça Alimentação
Data: 18/12/2012