domingo, 1 de janeiro de 2012

FELIZ ANO VELHO


A editora Brasiliense, a quem devo muito do meu gosto literário, tinha, ou tem, já não sei mais, uma série chamada ‘Cantadas Literárias’. Por causa dessa série tive a oportunidade de ler obras de Caio Fernando Abreu, Martha Medeiros, Leminski, e o grande best seller nacional da década de 80, Feliz Ano Velho, do estreante Marcelo Rubens Paiva.
Mas como um garoto de 22 anos consegue ter um livro de sua autoria na lista dos mais vendidos por semanas e semanas? A resposta é simples: é um livro real, escrito na primeira pessoa, na linguagem da época com suas gírias e palavrões, relatando uma história de vida, ou mais precisamente, o momento em que a vida mudou de rumo e o Marcelo fez do limão uma ótima limonada, literalmente, ou "literaturalmente", se é que essa palavra existe.
O livro conta a história do acidente que deixou Marcelo tetraplégico. O até então jovem de classe média paulistana vê sua vida virar num redemoinho em questão de segundos, tudo por causa de um mergulho num lago como se fosse o Tio Patinhas em sua piscina de moedas de ouro. Mas o que ele não contava era que o local do mergulho tinha somente meio metro de profundidade e Marcelo sofreu um choque na cabeça comprimindo e quebrando uma vértebra e, consequentemente, ficou com o corpo paralisado do pescoço para baixo. O livro começa exatamente neste momento.
Mas quem espera um livro de lamentações e lágrimas vai cair da cadeira, não digo do cavalo porque nunca vi ninguém ler montado num cavalo. Apesar do tema trágico o livro tem momentos de extremo humor, e, claro, muitas reflexões. Ele era um jovem de vinte anos que se vê obrigado a reaprender a viver. As descobertas vão desde a repetitiva fisioterapia e o retorno de uns poucos movimentos dos braços e mãos, seus dias no hospital, as visitas que recebeu, as histórias que viveu são contadas sob uma nova perspectiva: a de um jovem que sempre fez tudo o que podia e queria, e que, agora, sentado em uma cadeira de rodas, vê-se impotente diante dos acontecimentos, dependendo da ajuda de amigos e familiares para as coisas mais banais da vida. Há momentos hilários como as idas ao banheiro, momentos de intimidade quando a testosterona dos vinte anos vem à tona e ele percebe que ainda pode sentir desejo sexual, e muitos momentos de aprendizado.
Feliz Ano Velho virou peça de teatro dirigida por Paulo Betti que revelou para a mídia atores como Lília Cabral e Marcos Frota. Também foi adaptado para o cinema com direção de Roberto Gervitz, e já passou da edição de número 50, feito raríssimo para a época e até os dias de hoje.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Balaustrada Praia do Farol da Barra - Em frente ao Bahia Flat
Data: 10/03/2012

2 comentários:

  1. Odilon,

    Li este livro e adorei a história de vida, e a forma que aquele garoto superou os fatos que ocorreram em sua vida. Na época o livro me marcou muito. Tanto, que tempos depois, comprei um filhote de pastor alemão e lhe dei o nome de Sigmund (mesmpo nome do cachorro do Marcelo). Quando me perguntavam (que nome esquisito ?!?) eu recomendava a leitura deste livro.

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  2. Reinaldo,
    Há livros que marcam uma vida. Este, com certeza, é um deles.
    Abraço e obrigado por visitar o blog.

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