sábado, 24 de dezembro de 2011

RISÍVEIS AMORES


Quantas histórias de amor são realmente originais, será que ainda conseguimos ler histórias de amor e nos surpreender com seus enredos, começos, finais? Nesta época do ano em que se deseja ao próximo: amor, paz, prosperidade, felicidade, otimismo, o quanto disso realmente foi ou será vivido, ou o quanto de verdade e sinceridade existe nesses desejos? Estou um pouco cansado desse tipo de felicitação dita no piloto automático. Você realmente deseja que aquela pessoa tenha amor, prosperidade e felicidade, ou a frase já sai tal qual um pedido de café na padaria? “Por favor, um café grande com leite e um pão francês sem miolo com manteiga na chapa!” Tudo dito assim, sem pontuação, sem respirar.
No livro que pretendo abandonar chamado Risíveis Amores, publicado no Brasil em 1969, com uma refinada escrita de humor pelo grande Milan Kundera (1929), você encontrará sete contos que tratam do assunto inicial deste post: o amor. O risível do título você encontrará no subtexto, essa necessidade humana pela farsa, pela simulação ou dissimulação, pela representação teatral do amor e a incapacidade de experimentar sentimentos verdadeiros.
A obra trata dos equívocos, sejam eles de situações ou de sentimentos, que se desenvolvem a partir de um mal entendido, uma falta de comunicação, ou quem sabe fruto do jogo em que os amantes, conscientes ou não, expõem-se uns aos outros na tentativa de se mostrar merecedor do amor, ou de encobrir seus defeitos colocando uma máscara de “veja como sou bacana”.
Faz mais de 40 anos que esse livro foi publicado e não me surpreende o quanto permanece atual, neste século da comunicação é justamente a incapacidade dela que permeia as relações humanas na dita contemporaneidade. Outro dia estava eu jantando num restaurante, na mesa ao lado um casal, na minha mesa havia silêncio porque eu estava sozinho, na mesa deles também, cada um com seu smartphone acessando as redes sociais e mandando torpedos.
Quem de nós três estava mais sozinho? Fica aí uma boa pergunta.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Escada Rolante G1-Sul - Shopping Barra
Data: 10/03/2012

Um comentário:

  1. Tenho certeza de que a sua solidão era bem mais povoada e interessante do que a deles. A simples junção de dois ou mais vazios não preenche coisa alguma. Se temos vida interior, nunca estamos sós... Somo nossa melhor companhia!

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