domingo, 25 de setembro de 2011

DE BAR EM BAR


A escolha desse livro é proposital, ainda estou pensando muito sobre as relações humanas. A primavera já chegou e os jornais, telejornais, internet, revistas, foram invadidos pelas flores, abelhas voando, casais de namorados, e por aquele ar de amor que a primavera traz e o verão consolida. Se no post anterior eu falei sobre a história de um homem mais velho na busca pelo amor agora publico outro lado, uma mulher jovem de vinte e oito anos que é assassinada exatamente por causa da mesma busca.
Ao ler num jornal a descrição de um brutal assassinato que ocorrera em Nova York na noite de Natal de 1973, Judith Rossner (1935-2995) teve a idéia de construir um romance baseado naquele fato real. Primeiro procurou seu editor e vendeu-lhe a idéia, depois passou meses pesquisando os arquivos dos jornais e percorrendo os bares de Nova York. O resultado foi a publicação de "De Bar em Bar", no original com o título de Looking for Mr. Goodbar, que resultou um dos maiores fenômenos editoriais dos anos 70. A história de uma mulher solitária que anda pelos bares em busca de homens para sair do seu estado de depressão e isolamento, e que morre tragicamente. O livro vendeu dois milhões de exemplares e foi adaptado para o cinema com relativo sucesso. ”De bar em bar” aborda com inteligência a situação das mulheres descasadas numa cidade grande.
A trajetória de Theresa Dunn, professora dedicada que trabalha numa escola para crianças surdas durante o dia e que à noite abandona a imagem de moça bem comportada buscando em bares de Nova York uma companhia para noites solitárias. Uma mulher que foi muito reprimida sexualmente e procura o prazer nos braços de homens desconhecidos é encontrada morta em seu apartamento, uma história de solidão e violência desencadeada sem nenhuma razão aparente. O livro foi escrito em 1975, passados 36 anos desde a sua primeira edição parece que li a notícia no jornal de ontem.
Todos buscam relacionamentos mas ainda não encontramos uma fórmula de amor ideal, estamos cada vez mais expostos na TV e nas redes sociais nos tornamos mini celebridades, já temos remédios que proporcionam a sensação de felicidade, estamos cada vez mais conectados para ter a sensação de que estamos em todos os lugares e que não perdemos nada do que acontece, fotografamos nossas vidas e a expomos, do prato na mesa ao pôr do sol... Temos tudo isso e ainda estamos sós. Ficção?
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Pátio esterno - Sala de Arte - Cinema da UFBA
Data: 18/12/2011

sábado, 17 de setembro de 2011

UM AMOR


Não sei se inspirado na primavera que começa na próxima semana, ou talvez sugestionado por uma peça de teatro que assisti ontem chamada Alugo Minha Língua, com um ótimo texto de Gil Vicente Tavares e uma direção precisa de Fernando Guerreiro, mas o fato é que amanheci com essa sensação de falta de amor, ou desamor, ou será solidão de amor? Isso me inspirou a procurar um livro específico dentre os muitos que tenho para abandonar chamado “Um Amor”. Assim como a primavera traz a temporada do acasalamento, a peça que assisti ontem falava sobre a banalização do erotismo em contrapartida das relações humanas, Dino Buzzati (1906 – 1972) conta a história da solidão, do desamor, da dor do amor, ou tudo junto como no Caldeirão do Huck.
Antonio Dorigo, personagem principal, um arquiteto cinqüentão já realizado profissionalmente, conhece a jovem prostituta Laide, que lhe desperta um interesse fora do normal. Em pouco tempo, ele é seduzido pelas histórias mirabolantes da moça, e sua curiosidade inicial se transforma numa paixão avassaladora. Obcecado por todos os detalhes da vida de Laide, Dorigo se envolve num mundo de mentiras e mistérios no qual vai se perder como nunca imaginou ser possível. É a solidão em que vive, e que finge ignorar, que o leva a interessar-se por ela, de querer um pouco mais daquela mulher tão ambígua que lhe concede intimidade com hora marcada. Em outras palavras, ele sente a necessidade de conhecer alguém além de um corpo, a necessidade de partilhar seus sentimentos e se entregar a um amor.
Mas, pensando bem, Um Amor é também a história de um processo de saturação, pois, a partir de certo momento Dorigo se dá conta de uma vida emocional marcada pelo vazio profundo, pela falta de um relacionamento significativo que lhe suprisse as carências mais fortes, ignoradas até a aparição de Laide quando se impõem com toda força. Ela o fará sofrer, e ao se ver sofrendo ele se impõe o auto controle, caminho confortável que trilhou por toda a vida e neste momento sente-se aliviado, mas a tristeza é impiedosa, ele sabe que voltou a ser novamente só, querer controlar o amor é impossível e por isso vai perde-lo, e ao perder o amor perderá também a possibilidade de superar a solidão.
Dino Buzzati escreveu Um Amor quando já era um homem maduro, e o romance tem algo de inspiração autobiográfica. Buzzati também se apaixonou por uma mulher muito mais jovem, Almerina Antoniazzi, com quem viria a se casar em 1966.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Ponto de Ônibus - Sala de Arte - Cinema da UFBA
Data: 18/12/2011

domingo, 11 de setembro de 2011

A FOGUEIRA DAS VAIDADES


Já escrevi aqui algumas vezes que um bom livro pode tornar-se um péssimo filme e vice versa. Definitivamente a primeira opção acima é o caso de A Fogueira das Vaidades, mesmo contando com Tom Hanks, Bruce Willis, Melanie Griffith e o genial Morgan Freeman no elenco, e uma produção caprichada, a direção de Brian De Palma não salvou um roteiro chato. E o que nos restou? A Fogueira das Vaidades recebeu cinco indicações ao Framboesa de Ouro, nas categorias Pior Filme, Pior Diretor, Pior Atriz, Pior Atriz Coadjuvante e, claro, Pior Roteiro.
Tom Wolfe teve a infelicidade de ver seu exelente livro de mais de 600 páginas decupado, cortado, aviltado, e a excelente história narrada de uma forma brilhante foi execrada pela crítica.
Mas do que trata essa obra? Wolfe nos apresenta Sherman McCoy, jovem executivo de 38 anos, morador da ilha de Manhattan, rico, por vezes divertido, que curte a vida, a bela casa, carros de luxo e mulheres. Ao voltar com sua amante do aeroporto ele se perde na auto estrada errando o caminho que o levaria de volta a Manhattan e atropela um jovem negro debaixo de um viaduto no Bronx, a quem precipitadamente julgou ser um assaltante. Flagrado por um reporter, Sherman vê sua vida de yuppie bem sucedido transofrmar-se num jogo de poder, um cabo de força entre a extrema riqueza e a extrema pobreza, margeados por convenções muito particulares de quem se julga superior e acaba tendo sua presunção exposta. A partir daí Sherman McCoy também se transforma em vítima da sua própria presunção, da polícia, da justiça, da politicagem, da mídia, da família, do dinheiro e por aí vai.
O livro é uma corrosiva sátira sobre o poder dos ricos e dos políticos, e como esse poder é utilizado para abafar os podres em suas vidas pessoais, o retrato de uma Nova York dos idos anos 80.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Estacionamento da Associação Atlética da Bahia
Data: 11/12/2011