domingo, 27 de fevereiro de 2011

TUBARÃO


O que acontece quando um tubarão abandona seu habitat e mata uma mulher que cai no mar para um mergulho noturno numa cidade balneária? O que acontece se os políticos do lugar abafam o caso para evitar uma fuga em massa dos veranistas que sustentam a cidade? O que acontece quando esse mesmo tubarão volta a atacar num domingo de sol numa praia cheia de crianças e adolescentes? O que acontece quando um xerife, um velho marinheiro e um pescador high tech decidem caçar o tubarão embarcados numa velha traineira?
Nos dias de hoje eu diria; absolutamente nada, porque esse argumento estaria mais indicado para um documentário do National Geographic que poderia ser esquecido no meio da programação. Mas estávamos em 1974 e a resposta é: um best seller que vendeu mais de oito milhões de livros, que foi adaptado para o cinema pelo próprio autor, Peter Benchley (1940-2005), cujo filme foi dirigido pelo Steven Spielberg um ano depois do lançamento do livro, e que em poucas semanas arrecadou mais de cento e vinte milhões de dólares. Nos dois anos seguintes em que esteve na mídia somou mais de duzentos e sessenta milhões de dólares em arrecadação de todos os tipos de tranqueiras que um filme arrasa quarteirão pode lançar, inclusive mais algumas dezenas de edições do livro.
Mesmo sem ler uma linha sequer do livro várias gerações sabem exatamente seu começo, meio e fim, tendo como base o filme. Entretanto posso afirmar que o livro tem um outro final que foi ignorado na adaptação pelo próprio autor para dar um lado mais humano ao filme.
Assim como Peter Benchley, que ficou conhecido como autor de um livro só, uma vez que suas outras obras não emplacaram, a continuação do filme: Tubarão II, III e IV não deram em nada e amargaram fracassos de bilheteria. O próprio Steven Spielberg fez uma sátira de si mesmo no filme De Volta Para o Futuro II, o personagem Marty McFly está em 2015 e é engolido por uma animação do lançamento do filme Tubarão XXXIV, Agora é Pessoal.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Garagem 1 - Shopping Barra
Data: 21/05/2011

domingo, 20 de fevereiro de 2011

ESCOLHA O SEU SONHO


Estava aqui parado, vendo a tela em branco do computador, com um livro da Cecília Meireles ao lado, e me perguntei... Quem hoje em dia lê Cecília Meireles? Digo, espontaneamente. Quem hoje em dia chegaria até uma livraria para comprar um livro da Cecília Meireles? Não vale trabalho escolar do segundo grau. Autores como Cecília, Drummond, Machado de Assis, Clarice, estão relegados às prateleiras das bibliotecas ou aos trabalhos escolares. Nos dias de hoje que imperam as aventuras do bruxo Harry Potter, que por sinal li todos, ou a saga Crepúsculo, Lua Nova, Eclipse e Amanhecer, que ainda não li, mas já comprei e estão todos na fila, que adolescente se interessaria pelas poesias e crônicas de Cecília Meireles?
Modismos à parte, afinal na literatura também há os livros da ‘estação’, e isso é normal, sempre existirão os professores de literatura e os livros indicados para o vestibular que aguçarão a curiosidade das pessoas sobre esses autores, assim por dizer, “antigos”.
No livro que abandono dessa escritora maravilhosa, poetiza, pintora, professora e excelente jornalista, estão reunidas crônicas extraídas dos programas; Quadrante, apresentado pela rádio do Ministério da Educação e Cultura - MEC, e Vozes da Cidade, apresentado na rádio Roquette Pinto. São crônicas leves e ótimas para ler na praia como já escrevi aqui no blog, com um prefácio do não menos importante Carlos Drummond de Andrade que nos diz: “Nestas páginas, Cecília Meireles vê o mundo como ele é, e corrige-o para como deveria ser. Não o corrige pela violência, mas pela poesia.”
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Perini - Pituba
Data: 15/05/2011

domingo, 13 de fevereiro de 2011

COM LICENÇA, EU VOU À LUTA


Em fevereiro de 1983 o escritor, jornalista e sociólogo Herbert Daniel escreveu no prefácio do livro Com Licença, Eu Vou à Luta, o seguinte texto: “É preciso coragem para lê-lo – com toda parcialidade. É preciso abandonar toda adulteração para redimensionar a vida inteira, criança total, para que não haja direitos menores, nem abandonadas menores liberdades.” Ele estava certo ao recomendar a leitura para crianças, adolescentes, pais e educadores.
Eliane Maciel tinha quinze anos quando procurou um advogado pela primeira vez. Estava recorrendo a justiça para deixar de ser subjugada pelos pais como se fosse um uma prisioneira. Como será o estado psicológico de uma garota que chega ao ponto de pedir ajuda à justiça para se libertar da própria família? Elaine seria então julgada como se tivesse cometido um “crime”. E qual seria ele? Afrontar, com sua vontade de viver, um mundo estruturado para garantir a onipotência dos “maiores de idade”. Afinal, é ilegal ser “menor”?
O sociólogo Herbert Daniel estava surpreso com o processo de guerra civil estabelecido dento daquela família de classe média moradora da Baixada Fluminense, aprisionando-os em meio às farpas de violência, miséria, e o medo de perder as frágeis seguranças materiais e as deturpadas obrigações morais.
O livro é um soco no estômago, por isso a recomendação da parcialidade, e, embora já tenha se passado 28 anos desde o seu lançamento, é indubitavelmente atual. Eliane hoje é uma jornalista, já escreveu vários livros voltados ao público infanto-juvenil e tem cinco filhos. Sinal de que feridas saram e as cicatrizes podem não durar para sempre.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Frans Café - Pituba
Data: 15/05/2011

domingo, 6 de fevereiro de 2011

O NOME DA ROSA


Este livro virou febre no início dos anos 80 (Séc. XX) quando foi lançado na Itália, aqui no Brasil por volta de 1983 todos os intelectuais e “antenados” da época gabavam-se da leitura, muitos sem jamais terem vencido as quase 600 páginas (562 na edição que abandono). Os que não concluíram a leitura foram salvos em 1986 quando assistiram ao filme homônimo ao livro.
Umberto Eco (1932) ambientou seu romance em um mosteiro na Itália medieval. A morte de sete monges, um por dia em circunstâncias insólitas, com requintes de crueldade, por vezes erotismo, e até um pouco de humor negro, é a base para desvendar os conflitos no seio dos movimentos heréticos do Séc. XIV, as violências sexuais, a luta contra a mistificação, o poder e a demagogia da igreja. O autor, que além de escritor, é filósofo, semiólogo, linguista, e bibliófilo italiano, nos propõe uma reflexão já na escolha do título de seu livro “O Nome da Rosa” que nos remete ao nominalismo... “que é entre o que parece ser o nome da ‘rosa’ como nome, em si um conceito, portanto um nome universal e, dessa forma, eterno, imutável, imortal, e de sua contraposição a ‘rosa’, flor de existência única na realidade, mas passageira, mortal e transitória.”
No enredo, Frei Guilherme de Baskerville é designado para investigar uma suspeita de heresia em um mosteiro franciscano mas tem sua missão interrompida, ou iniciada a meu ver, pelo acontecimento dos excêntricos assassinatos. Esse é o mote da divulgação do livro que, quando virou filme, contou com uma excelente atuação de Sean Connery se desvencilhando de vez do fantasma do espião 007, e um Christian Slater em começo de carreira no papel de Adso de Melk, o fiel escudeiro do Frei Guilherme. Dizem por aí que o nome Adso foi uma homenagem fonética de Eco a ‘Watson’, fiel acompanhante de Sherlock Holmes, detetive de quem é fã.
Demorei para ler esse livro, e não vi o filme até que o concluí. Confesso que reli duas vezes até entender a dinâmica do mosteiro, acompanhar no mapa as idas e vindas dos personagens e me fascinar com a Biblioteca. Esta sim, no meu entender, o personagem principal, o viés da história, a causadora de todos os acontecimentos, e, principalmente, as justificativas e razões lançadas pelo autor para as mortes. Um dado importante no livro me chamou à reflexão; o fato de a cultura, sabedoria e conhecimento serem um privilégio de apenas alguns poucos, e por essa razão, ter o poder de manipular os damais em função de outros interesses que não a descoberta da verdade, e o mais relevante: a dúvida lançada se a instituição ‘Igreja’ possa ter ou não destruído uma grande parte da nossa herança cultural, pela simples razão de ser incômoda para a religião e fé católicas, e sobretudo, para a manutenção dos seus privilégios e condição social, econômica e política. Dan Brown viria a lançar essa mesma dúvida 20 anos depois com Anjos e Demônios e O Código Da Vinci, mais aí já é outra história.
É ler e tirar suas próprias conclusões.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Av. Reitor Miguel Calmon - Ponto de ônibus - Escola de Medicina da UFBA
Data: 23/04/2011