Até hoje fico emocionado com essas palavras. Confesso que já
reli Memórias de Adriano três vezes e em tempos diferentes da minha vida, assim
como também o faço com O Pequeno Príncipe, e, guardadas as devidas proporções,
aprendo muito tanto com um como com o outro. E o mais interessante desse livro
é que a cada leitura acabo fazendo novos grifos. Reza a lenda que Marguerite
Yourcenar (1903-1987) levou vinte e sete anos para escrevê-lo, sua conclusão
consumiu infindáveis horas de pesquisa, diversos manuscritos foram por ela destruídos,
interrompidos para pesquisas mais profundas e inúmeras crises de desânimo. Nas
horas de desencorajamento diante da grandeza do processo ela visitava museus,
passava horas completamente perdida em bibliotecas e sofria muito pela obra
inacabada. Anotava coisas, escrevia, reescrevia, recolhia dados, buscava
conhecimento para compreender e absorver a essência da personalidade do
Imperador Adriano.
O resultado disso foi a publicação de uma das mais
fascinantes obras do século XX, escrita na primeira pessoa, com um salto de
dezoito séculos sobre o tempo, a biografia romanceada de Adriano reconstrói não
só a ambientação física, política, social e cultural do seu tempo, mas também a
faceta psicológica de um grande imperador romano. O livro foi publicado em
1951, mas só em 1980, quando Marguerite foi eleita para ocupar a cadeira de
Roger Caillois na Academia Francesa de Letras, as editoras nacionais deram a
devida atenção a essa escritora que já tinha vinte e cinco livros publicados.
Memórias de Adriano é um livro clássico, daqueles que você encontra
em qualquer lista de livros que você deve ler antes de morrer, mas não é um
livro fácil, há de se ter concentração, paciência e perseverança. Aquele que
perseverar será brindado com palavras inesquecíveis como essas:
“Quantas vezes, tendo-me levantado muito cedo para ler ou
estudar, eu próprio coloquei em ordem as almofadas amassadas e os lençóis
amarrotados, evidências quase obscenas nos nossos encontros com o nada, provas
de que a cada noite deixamos de existir...”
Uma nota aqui se faz necessária, não vou abandonar o
exemplar da minha juventude, 5ª edição. Abandonarei uma versão em capa dura que
comprei há algum tempo, mas tive o cuidado de transcrever todos os grifos que
fiz no meu até a data de hoje.
Cidade do abandono: Salvador/BA
Local: Caixa Cultural - Exposição Desing Brasileiro - Moderno & Contemporâneo
Data: 13/09/2014
Eu, como você, li essa obra na época do seu lançamento e era muito uovem para compreendê-la em toda sua extensão. Preciso reler com urgência! Belo post! Adorei a história da professora.
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